O ideias incontidas deixa como dica de leitura o texto de Ricardo Azevedo “O macaco e a velha”. O texto foi trabalhado nas oficinas com as crianças que adoraram conhecer o conto e o Autor do mesmo.
O MACACO E A VELHA
Era uma casa em
cima do morro. A velha morava lá, na frente tinha jardim e atrás um montão de
bananeira. Perto da porta da cozinha ficava uma escada de pegar banana. A
escada quebrou. As bananas estavam madurinhas.Um macaco vinha passando e a
mulher o chamou:
- Me ajuda a
catar?
O macaco disse
sim. Trepou pelas folhas, deu um suspiro e desabou a comer tudo quanto foi
banana bem bonita.
A velha gritou:
- Safado!
O macaco ria.
- Pilantra!
A mulher ralhava.
O macaco só jogava pra velha banana verde ou então fedida, cheia de mosca e
mancha preta. Depois o macaco deu até logo e foi embora.
A velha juntou a
banana que sobrou, xingando e caraminholando.
Mandou fazer uma
boneca grudenta de cera. Botou na porta de casa, junto de uma cesta cheia de
banana. E ficou agachada espiando.
Passou um dia.
Nada.
Passou outro dia.
No terceiro, o
macaco passou e sentiu um cheirinho bom. Veio chegando:
- Ô Catarina!
Quero banana...
A boneca nem se
mexeu. No céu, um sol de rachar.
O macaco pediu
outra vez. A boneca quieta. O macaco falou grosso:
- Me dá uma
banana, ô Catarina, senão leva um tapa.
A boneca nada e
ele - pá - deu e ficou com a mão colada no beiço da moça de cera.
- Larga minha mão
senão leva um beliscão!
A boneca nem
ligou. O macaco deu e ficou com a outra mão presa.
- Me solta, ô
Catarina! Me solta senão toma um chute!
Esperou que
esperou. Meteu o pé e ficou mais grudado ainda.
- Diaba! Moleca!
Me larga, ô Catarina! - berrou o macaco preparando outro pé.
Chegou a velha
arregaçando os dentes:
- Agora você me
paga!
Levou o macaco lá
dentro e mandou a cozinheira preparar o coitado pra comer na janta.
A empregada foi e
fez.
Na hora de matar,
o macaco revirou os olhos e cantou:
Me mata devagar
Que dói, dói, dói
Eu também tenho
filhos
Que dói, dói, dói
Na hora de
esfolar, o macaco cantou:
Me esfola devagar
Que dói, dói, dói
Eu também tenho
filhos
Que dói, dói, dói
Na hora de temperar, o macaco cantou:
Me tempera devagar
Que dói, dói, dói
Eu também tenho filhos
Que dói, dói, dói
Na hora de assar,
o macaco cantou:
Me
assa devagar
Que
dói, dói, dói
Eu
também tenho filhos
Que
dói, dói, dói
A cozinheira
serviu o macaco num prato enfeitado com arroz, feijão-preto, couve, farofa e
mandioca frita.
A velha estalou a
língua, sorriu, cortou um pedaço e mordeu.
Na hora de
mastigar, o macaco cantou:
Mastiga
devagar
Que dói, dói, dói
Eu também tenho filhos
Que dói, dói, dói
A velha estranhou,
apertou os olhos mas comeu tudinho. Foi quando deu uma dor de barriga daquelas,
pior que rebuliço nas tripas. A mulher levantou, sentou, andou prá lá e prá cá.
Não teve jeito, era o macaco pedindo:
- Quero sair.
A velha respondeu:
- Sai pelas
orelhas.
- Não posso não,
que tem cera - gritou o macaco - Quero sair!
A barriga da
mulher doía.
- Sai pelo nariz.
- Tá assim de gosma.
Quero sair!
A barriga roncava
cada vez mais.
- Sai pela boca.
- Pela boca tem
cuspe. Quero sair!
Aí a velha
estufou, estufou e pum!
Foi um estouro que
se ouviu lá de longe.
E de dentro dela
saiu o macaco e mais um bando de macaquinhos, tudo viola, dançando e cantando:
Eu
vi a bunda da velha iá, iá
Eu
vi a bunda da velha iô, iô
Azevedo, Ricardo. Histórias
que o povo conta. São Paulo: Editora Ática, 2002. p. 26-30